Preenchimentos faciais no Brasil, entre eles o Botox, que também é usado no tratamento da paralisia cerebral e preparada no Instituto de Traumatologia e Ortopedia
De acordo com um estudo brasileiro feito com 160 médicos dermatologistas, publicado em 2022, mapeou a incidência e as causas de complicações nos preenchimentos faciais no Brasil. Sendo assim, foi constatada uma crescente procura nos consultórios para correções de problemas, que vão desde assimetria até cegueira. E tudo isso motivou a pesquisa.
Preenchimentos faciais no Brasil
Além disso, o levantamento sobre preenchimentos faciais no Brasil, feito em 2021, considerou os registros médicos enviados pelos participantes de 19 estados. À época, foram solicitados via questionários o número de procedimentos realizados na área do rosto, os tipos de produtos e o detalhamento das complicações atendidas no ano anterior.
No total, foram avaliados 47.360 procedimentos do tipo, dos quais 1.032 tiveram complicações (média de 6,45 por ano), sendo mais da metade deles, 550, ocasionados em procedimentos feitos por não médicos.
Apesar da fraca correlação entre o número total e as complicações (aproximadamente 2,2%), a proporção de danos em casos tratados por não médicos preocupa os pesquisadores, assim como o uso incorreto dos produtos.
Média de procedimentos
A média de procedimentos de cada dermatologista foi de 7,4 por semana, e os agravamentos decorrentes de procedimentos dos próprios entrevistados corresponderam a um índice de 1,23 ao ano. Já pacientes atendidos por outros tipos de médicos tiveram uma taxa de lesão de 1,79 por ano, e os atendidos por outros tipos de profissionais não médicos chegaram a ter 3,43 por ano.
Produtos
Por outro lado, o excesso de produto e falta de técnica estão entre as causas mais comuns das queixas, sendo as principais complicações relatadas após um mês ou mais do procedimento. Os resultados foram publicados no artigo “Frequency of Complications of Aesthetic Facial Fillers in Brazil” (frequência de complicações dos preenchimentos faciais estéticos no Brasil), na Revista de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos.
Os autores Mayra Ianhez e Marcela Souza, da UFG (Universidade Federal de Goiás), e Hélio Miot, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), estudaram também as características de produtos e as técnicas de injeção. É o que revela Miot à Folha de S. Paulo. Ele é professor do departamento de dermatologia da Unesp:
“A questão que nos despertou a curiosidade foi: será que as complicações estão mais frequentes unicamente por que tem mais pessoas fazendo, ou isso está ligado a profissionais com uma habilitação reduzida?”
Volume
Uma segunda hipótese avaliada foi a do tipo de preenchimento. Isso poque, segundo Miote: uma coisa é fazer um procedimento que corrija uma ruga pequena, e outra é fazer a chamada “volumização”.
O professor disse ainda que grande parte das complicações ocorreu pelo volume de produto, o que reforça a tese de que uma correção mais natural, sem injeção excessiva em locais como bochechas, queixos e lábios, é mais indicada.
“Maior o volume de produto, maior o risco de infecção, maior o risco de reação tecidual, [porque] fica mais tempo no tecido, provocando reações de hipersensibilidade local.”
Produção e venda
Contudo, outra questão é a regulação de produção e venda. Diferente da toxina botulínica, os preenchedores e os bioestimuladores usados nas chamadas “harmonizações faciais” não são considerados medicações do ponto de vista regulamentar, explica Miot.
“Você não tem que provar a eficácia e segurança igual ao medicamento. Se eu lançar uma dipirona, tenho que provar a bioequivalência do meu com o de referência no mercado. Se eu lançar um ácido hialurônico, não.”
Embora tenha um controle de qualidade durante a produção, para o ácido hialurônico, o ácido polilático e a hidroxiapatita de cálcio, as três substâncias básicas avaliadas no estudo, não há uma vigilância de efeitos adversos e de segurança.
Principais complicações
As principais complicações relatadas foram nódulos (63% da amostra), edema (inchaço) persistente ou intermitente (62%) e infecção tardia (25%). Em menor amplitude, teve oclusão arterial (15%), que leva a necrose, e ulceração da pele (8%).
A pesquisadora Ianhez, que é chefe da cosmiatria da UFG e médica do Hospital de Doenças Tropicais, sinaliza ainda que, apesar dos efeitos adversos ocorra com todos os tipos de produtos, a incidência varia entre as marcas.
Sendo assim, foram tabeladas as taxas de complicações de marcas específicas. No entanto, os pesquisadores dizem que para cada uma delas é preciso um estudo direcionado, especialmente quanto à tecnologia de cada fabricante. Para entender melhor os casos, a sensibilidade dos pacientes também deve ser avaliada em uma nova pesquisa em curso.
A pesquisa revela ainda que está sendo avaliado se a presença de um produto como o ácido hialurônico após uma infecção viral pode ser um indutor de reação e de inchaço.
“Isso é bastante comum e mostra que o produto não é completamente inerte, ele é bem tolerado, bem seguro, mas pode reagir e inflamar após um estímulo imunológico, como dengue, Covid, tuberculose.”
Especialistas
Todavia, para o cirurgião plástico Luís Maatz, os preenchedores são seguros, desde que em mãos especializadas. Entretanto, os erros costumam ser de difícil de tratamento.
“Materiais não biocompatíveis, como metacrilato ou hidrogel, não devem ser utilizados, pois não são completamente absorvidos pelo organismo, apresentando risco de infecção e rejeição, com chance de cronificação e sequelas.”
Aplicações superficiais
Maatz chama a atenção para as aplicações superficiais em determinadas áreas. É o caso da pálpebra inferior, que pode causar edema e alteração de coloração da pele. Neste caso, há uma necrose tecidual e haverá necessidade de cuidados locais com curativos e reconstrução com retalhos ou enxertos de pele a depender da extensão.
Contudo, o tratamento de deformidades, assimetrias e edemas varia desde massagens no local até o uso da hialuronidase injetada para dissolver o produto aplicado, explica Maatz.
“Há muitos médicos ou outros profissionais (como dentistas, biomédicos, farmacêuticos, enfermeiros, fisioterapeutas) que se intitulam especialistas em estética, mas não possuem formação para realizar os procedimentos de forma adequada e segura. Para minimizar os riscos, garanta que seu médico seja realmente especialista e tenha experiência.”
Erro e pacientes em risco
Por fim, segundo José Horacio Aboudib, membro titular da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e coordenador de cirurgia plástica da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a pretensa facilidade desse tipo de procedimento induz ao erro e põe pacientes em risco.
“Qualquer procedimento médico deve ser feito, por mais simples que possa parecer, por um especialista no assunto.”
Por fim, para escolher um profissional, a recomendação é buscar informações nos sites da SBCP e da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
*Foto: Reprodução