Lares de idosos, assim como creches, farão parte do novo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável 2022-2030 (PNPA)
Após escolas e hospitais, a Direção-Geral da Saúde (DGS) prevê, no novo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável 2022-2030 (PNPA), uma alteração na oferta de certos alimentos noutros espaços. Isso inclui as creches, universidades, lares de idosos e locais de trabalho.
Regras alimentares
Até 2027, o novo programa pretende reduzir o teor de sal e açúcar em vários produtos, assim como reforçar o conhecimento sobre a dieta mediterrânica. Tais metas visam à redução do excesso de peso e obesidade – em especial nas crianças e adolescentes, em pelo menos 5% até 2030 -, que podem vir a ultrapassar o tabaco no ranking dos principais fatores de risco para a mortalidade em Portugal.
Dia Mundial da Alimentação
Divulgadas no Dia Mundial da Alimentação, entre as ações previstas está a mudança da oferta alimentar servida em espaços como creches, universidades, lares de idosos (locais de saúde e apoio), locais de trabalho e outras instituições públicas, sejam cantinas ou máquinas de venda automática.
Plano Nacional de Saúde
Além disso, o documento que apresenta as novas linhas de orientação estratégica do programa, desenvolvidas no contexto do Plano Nacional de Saúde, estará em consulta pública durante um período de 21 dias úteis.
Em declaração ao Jornal Nacional, Maria João Gregório, diretora do PNPA, explicou:
“O nosso foco têm sido as instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas temos de trabalhar noutros contextos, nomeadamente com instituições onde as pessoas permanecem grande parte do dia e fazem grande parte das suas refeições.”
Ela disse ainda que os espaços que cuidam de crianças e idosos podem representar ganhos em termos de anos de vida a mais.
O programa prevê que os alimentos a restringir e a promoção de outras opções mais saudáveis serão definidos quer por orientações e legislação, quer pela definição de critérios para a aquisição pública de alimentos e serviços de alimentação. Recorde-se que hospitais e escolas já têm este tipo de restrições.
Ação conjunta
No entanto, em um futuro próximo, a responsável já adiante que, em ação conjunta com o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e Segurança Social, a DGS pretende expandir esta mudança a creches não só do setor, mas também a “todas as instituições que prestem cuidados a crianças nos primeiros anos de vida”.
Para os próximo cinco anos, a DGS pretende que, com o envolvimento da indústria alimentar, se consiga reduzir pelo menos 10% do teor de sal e 20% no teor de açúcar nos alimentos que mais contribuem para a ingestão destes. Além disso, também ao JN, Maria João Gregório adiantou, respectivamente, uma redução no queijo e produtos de charcutaria, e nos iogurtes e cereais de pequeno-almoço para crianças e jovens.
Os dados da DGS mostram ainda que 77% da população portuguesa ingere diariamente mais do que o valor recomendado pela OMS de 5 g de sal, e 24,3% consome mais açúcares livres (aqueles que são adicionados aos alimentos) num valor superior a 10% ao máximo recomendado pela OMS, sendo superior nas crianças (40,7%) e nos adolescentes (48,7%), de acordo com o último Inquérito Alimentar Nacional e de Atvidade Física (IAN-AF) de 2015-2016.
Dieta mediterrânica
Outra das metas definidas pelo novo programa tem em vista o aumento do conhecimento e das competências da população de Portugal sobre os princípios da dieta em pelo menos 20% até 2027, para que a consigam seguir.
Mudança nas porções
Entre as metas a alcançar, a médio prazo, a DGS deseja elevar o consumo diário de pelo menos 400 g de fruta e hortícolas em adultos, crianças e adolescentes. Segundo os dados do IAN-AF de 2015-2016, a população portuguesa come menos fruta e hortículas por dia do que recomendado pela OMS, tendo números mais preocupantes no grupo das crianças (72%) e dos adolescentes (78%).
A DGS pretende ainda a reduzir o consumo de carne processada até 2030, que ultrapassa as 50 g semanais em 7% da população, conforme o IAN-AF de 2015-2016.
Redução do uso de substitutos do leite materno
Por outro lado, com o intuito de fomentar a amamentação nos primeiros seis meses de vida, para ao menos 50% até 2030, o programa prevê legislação para regular o marketing de alimentos destinados a lactantes e crianças pequenas, assim como “restrições ao marketing inadequado de produtos alimentares que competem com o leite materno”.
Reforço nos cuidados primários
Além disso, a DGS pretende, em relação aos cuidados de saúde, reforçar e reorientar o SNS para uma alimentação saudável em todos os níveis. Todavia, o programa salienta, em particular, um melhoramento da capacitação dos profissionais dos cuidados primários de saúde para detectar precocemente os casos de excesso de peso e tratá-los mais rapidamente.
Inserido no Plano Nacional de Saúde 2021-2030 e alinhado com as recomendações da União Europeia e da Organização Mundial da Saúde (OMS), o PNPA 2022-2030 possui três estratégias de prevenção da má nutrição que englobam toda a população portuguesa. Área de intervenção prioritária para a DGS face às projeções do Institute For Health Metrics and Evalution que sugerem que, em 2030, as mortes associadas aos erros alimentares, ao excesso de peso e à obesidade podem vir a ultrapassar as mortes atribuídas ao tabagismo.
Por fim, desde 2012, que o PNPA aposta na promoção da saúde, ao definir metas de prevenção e de controle – em nível de os ambientes alimentares, individual e dos cuidados de saúde – a todas as formas de má nutrição, como a alimentação inadequada, a desnutrição, o consumo inadequado de vitaminas e minerais, a pré-obesidade e a obesidade.
*Foto: Reprodução/Paulete Matos