Quem tem esclerose múltipla deve priorizar alimentos ricos em gorduras insaturadas, como as sementes oleaginosas (amêndoas, nozes, castanhas), azeite de oliva extravirgem, linhaça, semente de chia e abacate
A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica, degenerativa e de caráter inflamatório, que acomete a bainha de mielina. Diante desta enfermidade, fica clara a importância de priorizar uma alimentação anti-inflamatória, como açafrão da terra (também conhecido como cúrcuma), frutas vermelhas (morango orgânico, framboesa, amora, cereja), gengibre e brássicas (brócolis, repolho, couve, couve-de-bruxelas, repolho). Além disso, a pessoa com EM também deve consumir alimentos ricos em gorduras insaturadas, como as sementes oleaginosas (amêndoas, nozes, castanhas), azeite de oliva extravirgem, linhaça, semente de chia e abacate.
Esclerose múltipla – estudos
Estudos indicam que os ácidos graxos EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosa-hexaenoico) são importantes para formar adequadamente as membranas e reduzir o processo inflamatório da esclerose múltipla. Portanto, alimentos como sardinha, linhaça e semente de chia devem integram a rotina alimentar destes pacientes. De acordo com a nutricionista pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), Juliana Bueno, para alguns pacientes é indicado o consumo de óleo de peixe livre de mercúrio.
A nutricionista afirma ainda que a incidência da EM é maior em regiões de baixa exposição solar:
“Isso se deve provavelmente ao déficit de formação endógena de vitamina D, que ocorre após a exposição à radiação ultravioleta B.”
Esta vitamina interage com mediadores inflamatórios e com o sistema imunológico, protegendo o organismo. A nutricionista revela também:
“Tem sido observado que existem receptores de vitamina D no sistema nervoso central que regulam a produção de mielina pelos oligodendrócitos. Sendo assim, a suplementação de vitamina D pode auxiliar na redução da progressão da doença.”
O que não comer
Pessoas com EM precisam evitar os alimentos que geram inflamação. É o caso do açúcar refinado, que é considerado um dos alimentos mais inflamatórios. Portanto, deve ser eliminado do cardápio dos portadores da doença, explica a profissional.
“Outro ponto importante é que muitos estudos comprovam que a alimentação rica em gordura saturada e em gordura trans altera a estrutura das membranas e favorece a entrada de antígenos na barreira hematoencefálica e/ou acelera a degradação da mielina.”
Contudo, os alimentos industrializados, que são ricos em gordura trans, como salgadinhos, biscoitos e margarina, e os alimentos ricos em gordura saturada, como manteiga, carnes, queijos amarelos e leite, também devem ser evitados.
Alimentos com glúten
Em contrapartida, a nutricionista revela que alguns estudos têm evidenciado que a ingestão de alimentos com glúten pode estar associado ao desenvolvimento da doença. Chamado de mimetismo molecular, ele está envolvido em muitas doenças autoimunes. Trata-se da incapacidade do organismo de diferenciar as proteínas próprias das que não fazem parte do organismo. Com isso, ele passa a se proteger contra estruturas erradas, resultando em destruição de tecidos pelo sistema imunológico.
O consumo de alimentos com glúten provavelmente tenha sido relacionado com a EM por conta da função do mimetismo molecular entre os antígenos alimentares e a sequência de aminoácidos da bainha de mielina, explica Juliana.
Intestino
Assim como em outras doenças, o intestino é um elemento-chave também para a esclerose. Isso porque trata-se de órgão protetor, com a finalidade de evitar que elementos desagradáveis sejam absorvidos. Mas, quando temos a disbiose, que é quando o intestino apresenta mais bactérias patogênicas do que benéficas, o organismo perde a ação de seletividade e acaba por absorver moléculas grandes, que serão reconhecidas como invasoras, desencadeando a inflamação e, consequentemente, piorando a doença.
Vitamina B12
Por outro lado, o consumo de vitamina B12 é essencial para a produção da bainha de mielina. Isso porque ela é capaz de ser sintetizada pela microbiota intestinal. Sendo assim, fica clara a importância de cuidar da flora intestinal por meio de alimentos ricos em fibras e uso de probióticos, como Kefir, Kombucha e/ou suplementos. Além disso, os alimentos fontes de vitamina B12 são: carne de gado, frango, ostra, ovos, queijos, alga marinha nori e chlorella. Portanto, é fundamental que a vitamina B12 seja dosada nos pacientes com EM.
Por fim, a ingestão de magnésio é essencial para a contração e o relaxamento dos músculos. Ele tem papel muito importante na redução da fadiga e das dores musculares apresentadas pelos portadores da doença.
“Alimentos folhosos verdes escuros (couve, espinafre, rúcula), gergelim, brócolis, banana, repolho e cereais integrais devem fazer parte da rotina alimentar.”
Restrição calórica
Contudo, o controle de peso é um dos pontos-chaves quando se fala em cuidado com o processo inflamatório e controle da EM. A nutricionista Juliana concorda que a perda de peso deve ser incentivada a estes pacientes. No entanto, ressalta que grandes restrições calóricas devem ser evitadas, pois muitas vezes há deficiência de vitaminas, minerais e fitoquímicos importantes para reduzir a progressão e os sintomas da doença. E ao retirar alimentos descritos como “calorias vazias”, ou seja, que não agregam benefícios nutricionais, e introduzir grande quantidade de alimentos anti-inflamatórios podem ser boas alternativas para que estes pacientes percam peso. A nutricionista explica que automaticamente o valor energético consumido reduzirá drasticamente e, em grande parte dos casos, esta ação já será suficiente para controlar o excesso de peso.
Doença afeta mais mulheres do que homens
Outra característica da EM é que as mulheres têm pelo menos duas a três vezes mais chance de desenvolver a doença do que os homens, explicam especialistas.
A diferença pode estar em uma proteína do sistema imunológico chamada interleucina-33 (IL-33), pois ela ajuda as células do sistema imunológico a se comunicarem. Porém, outra razão pela qual mais mulheres desenvolvem esclerose múltipla do que homens pode ter a ver com hormônios reprodutivos. Antes da puberdade, meninos e meninas tendem a ter EM aproximadamente na mesma proporção. Mas, à medida que meninos e meninas entram na adolescência e na idade adulta, quando os corpos masculino e feminino produzem hormônios diferentes, as mulheres começam a ter EM em taxas mais altas do que os homens. Por fim, tal diferença leva os pesquisadores a considerar uma possível ligação entre os hormônios sexuais masculinos e femininos e a esclerose múltipla.
*Foto: Reprodução