Carne vermelha para idosos pode trazer complicações cardiovasculares 22% maior aos que ingerem a proteína diariamente
Apesar de uma dieta balanceada conter o consumo de carnes vermelhas, pesquisas revelam que este tipo de proteína pode também fazer mal à saúde. É o que mostra o estudo da Universidade de Tufts e também o Instituto Lerner. Ambos ficam nos Estados Unidos e mostram que a ingestão de carne vermelha e carne processada podem elevar em 22% o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares em idosos.
Carne vermelha para idosos
Além disso, ao longo dos anos, cientistas investigaram a relação entre doenças cardíacas e uma alimentação com gordura saturada, colesterol dietético, sódio, nitritos e até cozimento em alta temperatura. Porém, as evidências que apoiam muitos desses mecanismos não são robustas. Contudo, o novo estudo, publicado na revista Arteriosclerosis, Thrombosis, and Vascular Biology, sugere que os culpados subjacentes podem incluir metabólitos criados pelas bactérias intestinais quando comemos carne.
Participaram da pesquisa quase 4.000 pessoas acima de 65 anos. e ficou evidente que há um risco 22% maior para cada 1,1 porção de proteína ingerida por dia, e aproximadamente 10% desse risco elevado é explicado pelo aumento dos níveis de três metabólitos produzidos por bactérias intestinais a partir de nutrientes abundantes nas carnes vermelha e processada: o N-óxido de trimetilamina (TMAO), a gama-butirobetaína e a crotonobetaína. Em contrapartida, a vulnerabilidade não foi constatada com o consumo de aves, ovos ou peixes, e os voluntários foram acompanhados por, em média, 12 anos e meio.
Porém, outros fatores, como o aumento do nível de açúcar no sangue e a ativação de inflamações no corpo a partir da carne, se mostram mais nocivos que o colesterol ou a pressão arterial, afirma o em nota, o coautor sênior, Dariush Mozaffarian:
“Curiosamente, identificamos três caminhos principais que ajudam a explicar as ligações entre carne vermelha e processada e doenças cardiovasculares – metabólitos relacionados ao microbioma, níveis de glicose no sangue e inflamação geral -, e cada um deles parecia mais importante do que os caminhos relacionados ao colesterol no sangue ou a pressão arterial.”
Além disso, os cientistas disseram ainda este é o primeiro estudo a investigar as interrelações entre alimentos de origem animal e o risco de doenças cardiovasculares. Na avaliação de Meng Wang, coprimeira autora do artigo, a pesquisa responde a perguntas de longa data sobre a ligação entre a proteína e esse tipo de complicação.
“As interações entre a carne vermelha, o nosso microbioma intestinal e os metabólitos bioativos que eles geram parecem ser um caminho importante para o risco, o que cria um alvo para possíveis intervenções para reduzir doenças cardíacas.”
Melhores escolhas de cardápio
Contudo, os autores dizem que é preciso compreender os impactos do consumo de carne vermelha em idosos. Isso porque, apesar de serem mais suscetíveis à ocorrência de complicações cardíacas, essas pessoas podem se beneficiar da ingestão de proteínas, uma vez que o nutriente compensa a perda de massa e força muscular relacionadas à idade.
Portanto, os resultados do estudo indicam que fazer melhores escolhas alimentares pode funcionar como um fator protetivo para o coração.
Todavia, Ahmed Hasan, do Instituto Nacional de Saúde, cujos dados baseiam a análise, ressalta que é preciso aprofundar o estudo sobre o efeito da carne vermelha na saúde cardíaca de idosos. Mas os primeiros resultados indicam que, ao escolher alimentos de origem animal, pode ser menos importante o foco nas gorduras totais e saturadas, por exemplo, do que entender os efeitos sobre a saúde de outros componentes do alimento.
Mesmo diante dessa descoberta, eliminar a carne do cardápio não é a salvação para evitar doenças cardiovasculares. E sim, apenas um caminho para a prevenção em determinados grupos. Hasan reforça que, independente da idade, para ter uma vida mais saudável para o coração, é necessário a adoção de uma dieta rica em vegetais, frutas e grãos integrais, além de controlar o estresse, ter qualidade de sono e praticar exercícios físicos.
Risco maior de morte
Entretanto, para parte do grupo de pesquisadores que associa a ingestão de carne vermelha e processada à saúde cardiovascular publicou, em maio, na revista Jama Network Open, um estudo que relaciona o TMAO e outros metabólitos ao risco de morte em pessoas mais velhas. A vulnerabilidade foi de 20% a 30% maior entre idosos com níveis mais altos desses compostos no plasma e em seus biomarcadores do que os com taxas mais baixas.
Os resultados foram obtidos na análise de dados de mais de 5.000 pessoas. Para os autores, as informações podem ajudar na criação de estratégias para reverter os níveis do metabólito.
Remédios x infartos
Agora, se pararmos para pensar que quem possui uma doença cardiovascular e se trata com remédios específicos, como betabloqueadores e antiplaquetários pode ter um efeito rebote. Ou seja, o que deveria impedir uma piora clínica provoca ainda mais problemas de saúde.
Essa possibilidade foi levantada em uma pesquisa que identificou uma relação entre o uso desses dois medicamentos e o aumento de ataques cardíacos em períodos de calor extremo.
Estudo alemão
O estudo utilizou como base o registro de 2.494 casos de pessoas que sofreram ataque cardíaco não fatal em Augsburg, na Alemanha, durante os meses de clima quente (de maio a setembro), entre 2001 e 2014. Os autores analisaram a utilização das duas classes medicamentosas antes do infarto, comparando os dados da exposição ao calor no dia do problema com os dos mesmos dias da semana no mesmo mês.
Mas, a análise não determinou uma relação de causa e efeito. Ela revelou que o uso de medicamentos antiplaquetários foi associado a um aumento de 63% no risco de ataques cardíacos, e o de betabloqueadores, de 65%.
No caso de ingestão dos dois remédios, a taxa subiu para 75%, disse em nota Kai Chen, professor-assistente do Departamento de Epidemiologia da Escola de Saúde Pública de Yale e primeiro autor do estudo, publicado na revista Nature Cardiovascular Research:
“Os pacientes que tomam esses dois medicamentos têm maior risco. Durante as ondas de calor, eles devem realmente tomar precauções.”
Os cientistas consideram que o risco de sofrer um infarto pode ter aumentado em decorrência do aumento da temperatura e também pela ocorrência de doença cardíaca subjacente. No entanto, há pistas da força da primeira hipótese. Uma delas é que, na maioria das vezes, outros remédios para o coração não mostraram uma conexão entre ataques cardíacos relacionados e calor.
Estatinas
Por fim, a única exceção foram as estatinas. No caso, quando foram tomadas por pessoas mais jovens, elas foram relacionadas a um risco três vezes maior de ataque cardíaco em dias quentes. Agora, a equipe planeja tentar desembaraçar essas relações em novos estudos.
*Foto: Unsplash