Balé para idosos é um exercício completo e vem crescendo o interesse desde 2017
Nos Estados Unidos, a cultura da prática do balé para pessoas da terceira idade já é uma realidade desde 2017. No Studio A, em Los Angeles, uma senhora de 75 anos, Diane Kravif, se posiciona na barra com postura ereta perfeita. Ela usa sapatilhas cor-de-rosa e seu cabelo chanel grisalho está preso com a ajuda de uma faixa. Além disso, ao observar seus movimentos de pile e tendu, é como se ela sempre tivesse dançado balé. Mas, na realidade, Diane só começou a dançar há quatro anos.
Ela diz que sempre é a mais velha, em relação às outras alunas da aula semanal. No início foi difícil aprender a técnica. Porém, hoje, há momentos em que sente que está dançando de verdade. “É surpreendente, algo que jamais imaginei que fosse possível.”
Balé para idosos
Nos últimos anos, o balé para idosos vem ganhando mais adeptos. Apesar de não haver dados sobre o número de alunos de balé de terceira idade, desde 2017 para cá já havia interesse suficiente para que a Royal Academy of Dance – uma das maiores entidades no mundo no treinamento de professores de balé clássico – criasse seu programa Silver Swan, que se propõe a ensinar a dança para pessoas de 55 anos ou mais. Desde então, a academia já certificou mil desses professores, que atuam em 51 países.
Segundo a instituição, o interesse crescente ocorre em um momento em que há uma ampliação no entendimento dos benefícios potenciais do balé, especialmente para o corpo e a mente de pessoas da terceira idade.
Saúde dos idosos a partir do balé
Vários estudos revelam que a partir dos 40 anos, mais ou menos, o equilíbrio se torna uma habilidade vital que está associada à longevidade e qualidade de vida. Em um estudo, 20% das pessoas com mais de 50 anos não conseguiam se equilibrar sobre um pé por mais de 20 segundos. Isso está ligado a um risco duas vezes maior de morte em até dez anos.
Por conta das aulas de balé ressaltar o equilíbrio sobre um pé ou manter a estabilidade enquanto você transfere seu peso de uma posição para outra. “Não conheço muitas disciplinas que treinam os membros inferiores como faz o balé”, afirma Madeleine Hackney, professora da Escola de Medicina da Universidade Emory.
Apesar de a ioga e pilates também treinarem a flexibilidade e fortalecerem o core, o balé oferece uma variedade maior de movimentos. “Saltamos no ar, nos elevamos na ponta dos pés, abaixamos o máximo que podemos”, diz Hackney. “É a gama completa do que o corpo humano é capaz de fazer.”
Benefícios cognitivos
O balé também possui benefícios cognitivos. Um estudo realizado ao longo de 21 anos pelo Instituto Nacional sobre Envelhecimento concluiu que pessoas que dançam algumas vezes por semana têm risco 76% menor de sofrer demência.
“Você precisa lembrar a sequência de passos, precisa se lembrar de como fazê-los e precisa fazê-los”, pontua Hackney. “Você fica cognitivamente envolvido, tentando lembrar tudo isso e coordenar os movimentos com a música.”
Superar o medo
Michael Cornell é fundador da Align, escola de balé para adultos na Califórnia. Ele diz que é difícil persuadir possíveis alunos a entrar no estúdio, pois muitos pensam que o balé só pode ser praticado por quem é jovem e muito magro.
“Temos tentado eliminar essa toxicidade da aula de balé e ser abertos, inclusivos, diversos e dar apoio.” Por exemplo, Cornell orienta os alunos a usar roupas confortáveis, em vez de comprar roupas próprias para balé.
Inclusão
Além disso, ser inclusivo também significa dar abertura a pessoas com diferenças físicas, afirma Ronald Alexander, instrutor na Ailey Extension, em Nova York. “Se você tem lesões, se você tem um problema nos joelhos, nos pés, nos tornozelos, podemos trabalhar com isso.”
Nas aulas de Cornell, se um aluno está com dificuldade em completar uma pirueta inteira ele os incentiva a tentar uma meia pirueta ou um quarto de pirueta. Se isso for difícil demais, ele faz a pessoa se equilibrar sobre uma perna por três segundos.
“O mais difícil foi aceitar o fato de que eu ia falhar uma vez, outra vez, outra e mais outra, que eu ia falhar totalmente na presença de outras pessoas”, conta o ator Joe Seely, 60, de Los Angeles. Ele começou a estudar balé dez anos atrás.
Diane reforça que, independentemente de sua idade, o balé é uma prática que é difícil dominar. Mas ao mesmo tempo ela pode ser libertadora. “Na minha idade, a maioria das coisas que eu faço, faço bem. Sou perfeccionista. Mas fazendo aula de balé como adulta principiante, não sou muito boa e acho que nunca serei.”
Por fim, Howard-Martin diz que a partir do momento em que você se liberta da expectativa de perfeição, o que antes era intimidante no balé pode começar a lhe dar satisfação. “Há uma qualidade meditativa no balé, algo que eu acho que não apreciava quando era criança”, diz Howard-Martin. “Sinto uma paz muito grande quando estou no estúdio dançando, e isso me deixa profundamente feliz.”
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/vista-frontal-senior-mulher-dancando-no-estudio_58397294