Cabelo ancestral inclui oficinas, pesquisas e rodas de conversa, com jovens de Duque de Caxias (RJ), que resultou em um documentário sobre o uso e o trabalho com tranças
Entrar em uma sala de aula em que a maioria das meninas usava tranças africanas, no CIEP 097 Carlos Chagas / Intercultural Brasil-China, em Duque de Caxias (RJ), a professora, também negra, sentiu na pele a sensação de se reconhecer no outro. “Percebi que essa empatia era mútua, pois as alunas também conseguiam se reconhecer em mim. Desse lugar, nasceu o projeto Trançando Histórias, que tem como mote a prática milenar de trançar os cabelos.”
Cabelo ancestral – força
Com a proposta de valorizar o cabelo ancestral, a professora identificou a oportunidade de trabalhar com a turma a pesquisa, que inclui a valorização da identidade e ancestralidade, atendendo assim à lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares.
Trançando Histórias
Sendo assim, o projeto Trançando Histórias foi planejado para ultrapassar os muros da escola. Por isso, a professora Cleide da Silva Magesk desenvoleu todo o planejamento junto aos seus alunos, ouvindo as propostas e sugestões deles. Foi nesse momento que decidiram criar um documentário no qual o uso e o trabalho com as tranças seriam destacados de forma positiva.
“Após as aulas em que trabalhamos textos diversos (literatura, artigo de revista e letra de música), propus a produção de podcasts”. Cleide levou para a sala de aula alguns exemplos de formatos, como entrevistas, bate-papos e monólogos, para que eles escolhessem. A partir daí, gravaram episódios com falas sobre o trabalho com as tranças e as histórias coletivas que envolvem os cabelos e suas tranças afro. Para incentivá-los, postou cada episódio no Spotify.
Usar tranças
“Eu uso tranças há muitos anos, porém pensar nelas a partir de um projeto de pesquisa foi importante e renovador para minhas práticas futuras. Há urgência em levar o cotidiano para dentro da sala de aula e ensinar os alunos a pensarem a partir dele”, afirma Cleide.
Levar para outras escolas
Vale destacar que o projeto Trançando Histórias pode ser desenvolvido em qualquer escola. Isso porque as atividades foram pensadas para promover a criatividade, a colaboração entre os alunos e, ao mesmo tempo, despertar o sentimento de pertença. Até hoje, os alunos e a direção da escola sentem orgulho pelo desenvolvimento dessa prática, e “sou grata por isso”.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/retrato-de-mulher-bonita_9986195